Resolvi que a melhor forma de matar essas longas horas era oferecendo um grande e duradouro banquete para os meus amigos. Eu cozinhava e eles estavam encarregados de trazer as bebidas, que embalavam até o fim do dia, as risadas, o por do sol da minha varanda e o sono pós festim.
Enquanto pesquisava as receitas para um desses almoços, me deparei com um livrinho de mil novecentos e bolinha, todo carcomido, com receitas macrobióticas. Nele achei uma receita muito interessante de molho de melancia. Seria uma aventura diferente levar à mesa um molho desses, ainda mais que eu estava pensando em fazer um peixe assado.
Então lá fui eu tomar o ônibus na avenida principal- eu também não tinha carro na época- direto para o grande supermercado da city. Na volta, com um monte de sacolas na mão, eu tentava bravamente manter aquela rechonchuda melancia dentro da sacola plástica pendurada entre meu indicador e polegar. Várias vezes eu visualizei a minha musa do dia rolando corredor a dentro do ônibus até se espatifar nas pernas do motorista.
Chegando no apartamento com todas as compras a salvo, a primeira medida a ser tomada foi apurar o molho. Por conter muita água, o molho de melancia deve ser o primeiro item a ser colocado no fogão, ela demora algumas horas até que o caldo seque e sobre somente uma papa grossa, doce e suave. Não tente compara com o molho de tomate, que fica escuro e bem homogêneo. O molho de melancia fica vermelho claro, com cara de aguado, os pedaços que sobrarem da cocção podem ser amassados com uma colher.
O efeito deste molho em uma mesa de almoço é devastador. A maioria das pessoas nunca provou e, até hoje, percebo certa surpresa entre amigos quando o cito. A sua simplicidade desencoraja os menos aventurosos, acostumados com o de sempre molhos de tomate-chutney de manga-pesto etc. É uma forma de quebrar a rotina, qualquer dia da semana.
Antes de mais nada, abrir e cortar a melancia em pedaços. Pode ser qualquer tamanho. Quem não gosta muito da crocância das sementes e tiver a paciência de um chinês, fique a vontade para retirá-las. É legal cozinhar em uma panela para molhos ou macarrão que seja grande funda, a altura da panela contribui para que o vapor saia, sem que seque de uma vez por todas e de tempo da fruta amolecer. Neste molho não vai nenhum refogado, somente o sal a gosto e um grosso fio de azeite. Fogo médio a brando, a demora é longa, de 2 a 3 horas para depurar, enquanto isso, munida de uma taça de vinho branco – é o que eu mais gosto- vá preparando o resto do banquete. O molho serve bem com arroz integral, peixes e para os mais aventureiros no macarrão.
Um comentário:
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